sábado, 13 de setembro de 2008

Queda Livre


"(...) a gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesma nunca se deve de tolerar de ter. Porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a idéia e o sentir da gente; o que isso era falta de soberania, e farta bobice, e fato é."
(Guimarães Rosa - Grande Sertão: veredas / Arte: P. Picasso)



Não acreditasse na força das palavras, eu mesma me arrepiaria com o que o que hoje seria capaz de escrever sobre raiva, mágoa, culpa, rejeição e desafetos do gênero.

Definitivamente, não me assusta a possibilidade de escrever a respeito, mas sim a dureza com a qual poderia fazê-lo, o que talvez me trouxesse sentimentos tão ou mais danosos em relação aos que já estava sentindo.

Passadas algumas horas, o peito ainda pulsa desordenado. Sei que a raiva, a que tanto me pediram, não foi embora, mas busco nas palavras um pouco de serenidade e, talvez, alguma elaboração.

Lembro que a uma certa altura do poema Tabacaria, o poeta (Álvaro de Campos) declara "(...) vou escrever esta história para provar que sou sublime”. Talvez seja isso que eu pretenda com esta postagem: provar que (ainda) sou sublime, a despeito de toda raiva e descontrole que a motivou.





QUEDA LIVRE


“Passarinho cai de voar, mas bate suas asinhas no chão”
(Guimarães Rosa – Grande Sertão: veredas)


Em geral é assim: o afeto pousa e as palavras voam. O vôo traduz a intensidade e a beleza do afeto.

Pode ser um vôo pleno, bonito toda vida ou um silencioso planar.

Um vôo liberto: asas que reconquistam um espaço perdido, ressignificam o azul do céu e o sentido do voar.

Um vôo tímido, apreensivo do próprio sentir. Ou até mesmo um vôo ousado, dando tudo de si, talvez por desconhecer o limite entre a doação e a insensatez.

O vôo em queda livre não pode ser descartado e é assustador quando sua motivação traduz uma ação auto-destrutiva em detrimento de uma atitude desafiadora.

A raiva alimenta o motor, agita as asas, estraga o vôo, embaça a visão, desloca a paisagem.

Pena não ter tido uma pane por falta de combustível. É certo que alguma coisa dentro de mim explodiu.

(VaneideDelmiro)

5 comentários:

Camilla Tebet disse...

Raiva em queda livre é mesmo perigososo. assusta a gente mesmo não é? poe no papel e joga fora.. não é uma boa:? às vezes ficamos com medo das palavras que deixamos sair e nos perguntamos como conseguimos pensar em sentir aquelas coisas. assim ó: sendo humanos. temos mais é que respeitar nossas raivas, mas tomando cuidado para que elas não façam mais estragos do que o necessário. Me expressei mal, mas é que ando sentindo raiva.
Um beijo sem raiva.

Paixão, M. disse...

Olhe, moça, que esses momentos de raiva são mesmo inevitáveis. A gente não tem não que ser sublime o tempo todo... Eu costumo ter uma atitude mais positiva em relação à raiva, rs... vendo-a como algo temporário e que impulsiona com mais força o nosso seguir em frente. Diferente do ódio, do rancor, que como bem diz Elisa Lucinda, "se instaura e causa tremenda prisão de ventre: por isso aquele cara vive enfezado"

Espero que já tenha encontrado a calmaria. E quanto ao escrito, sempre belo :) Sempre adoro.

beijo com carinho!

Mari Monici disse...

transmissao de pensamento....e Gimaraes Rosa é tudo nesta frase não? cada vez adoro mais o Grande Sertão... e senti bem isso 1inda nestes dias...
carinho
mariana

Anônimo disse...

Alguma coisa dentro de mim sempre explode.
Obrigada pela visita e pelas palavras!
volte lá! :)

Anônimo disse...

Já ouvi que ódio é o veneno que eu tomo querendo que o outro morra.
Ainda assim, acho que devemos nos permitir sentir raiva as vezes. Mas só por um tempo. Guardar rancor pra toda vida é deixar de viver a própria vida...

Bjs!