domingo, 26 de abril de 2009

Para não emudecer...

Eu bem desconfiara. Quando abril se abriu engoliu minhas palavras. Eu o desejei ameno, mas ele se fez cruel, golpeando-me dessa forma.

Enquanto as palavras partiam, eu tentei recuperá-las, gritei por elas, as chamei baixinho pelo nome, fiz bico, chantagem, apelei às boas lembranças. Todo tipo de capricho utilizei. Até a saliva secou de tanto que argumentei, relembrando a nossa história.

Ofereci, de bom grado, lápis, papel, borracha, tudo de bandeja, na mesa, sob a luz focada do abajour.

Nem pareciam me ouvir. Bateram em retirada. Fizeram um silêncio abissal. Sequer olharam pra trás. Pouco caso ou um caso fatal?

Por via das dúvidas, comecei logo a rezar. Eu disse:
- Senhor, não me deixa emudecer. A poesia é também meu pão de cada dia, um escudo contra o sofrer. Senhor, não me deixa emudecer porque tudo que morre em mim, ressuscita no dizer.
Amém.


(VaneideDelmiro)



"Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á" (Mateus 7:7)
"E, tudo o que pedirdes na oração, crendo, o recebereis" (Mateus 21:22)