sexta-feira, 23 de novembro de 2007

INVESTIDAS FANTASMAGÓRICAS...


A morte torna o Deus Cronos irreconhecível e traz, como em nenhuma outra situação, o sentimento do irreparável.
É estranhíssimo tentar assimilar algo real mas que ressoa tão fantasioso, apesar de tantas evidências cotidianas: o lugar vazio na mesa, o jornal recolhido, um varal sem toalha, uma casa que não acorda ao som de uma voz, a expectativa de uma chegada que não chega, que não chega, que não chega mais.
E como se não fosse suficientemente cruel a sua ausência, é terrível a tentativa de me transformarem também num fantasma. Por mais que tente, é impossível não ver nisto um assassinato, ainda que simbólico, com consequências pra lá de imaginárias: reais.
Hoje, em mais uma dessas investidas fantasmagóricas a que tentaram me submeter, reparei o quanto a "diplomacia" se presta à covardia, fazendo dela seu aparente disfarce. Se pessoas se omitem em nome da Verdade, imagino o que não são capazes de fazer por causas bem pouco nobres. Restou-me calar face a tamanho desapontamento.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Que tinha tu com este mundo dos homens?

"(...)
E aqui morreste! Oh, tua morte é a minha, que, enganada,
recebes. Não te queixas. Não pensas. Não sabes. Indigno,
ver parar, pelo meu, teu inofensivo coração.
Animal encantado - melhor que nós todos!
- que tinhas tu com este mundo
dos homens?
(...)"

(Cecília Meireles)

domingo, 18 de novembro de 2007

Agora eu sei...



"Coisas que eu sei...
O medo mora perto das idéias loucas
Coisas que eu sei...
As noites ficam claras no raiar do dia
Coisas que eu sei...
São coisas que antes eu somente não sabia
Agora eu sei...
Agora eu sei..."

(Coisas que eu sei - Composição: Dudu Falcão / Intérprete: Danni Carlos)

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

A salvação?


"Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Por que eu escrevo? Para me manter viva."
(Clarice Lispector)

"Quem escreve, escreve um pouco por isso: por se sentir transitório, passageiro, e pela urgência de dizer, de se dizer, de deixar, talvez, suas cicatrizes sobre a terra."
(Trecho: Revista Continente Multicultural, Dez./2004)

ESCRITA GEMINIANA


A folha em branco se desloca para a tela. Faz um silêncio profundo e dolorido. Pressinto um daqueles momentos em que a escrita transita entre o urgente e o inalcansável. Será que a escrita é geminiana? E se salva - como creio e sinto - a que horas lancará mão de seus super poderes e enfraquecerá, com uma única palavra, esse maléfico silêncio?
Algo da morte reside no silêncio, afinal, não à toa, a vida recém saída do ventre irrompe em grito, choro, som.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Tão jovem, a morte (Lya Luft)


"A rainha da nossa perplexidade, que torna o presente tão importante, o amor tão urgente, a bondade tão necessária, a ética tão essencial, a arte tão fundamental - ela, a Senhora Morte, devia, por inevitável, nos tornar muito melhores do que somos.
Muito mais prudentes. Muito mais audaciosos. Muito mais abertos para a vida, a alegria, a claridade, em lugar de tão enredados em nossas mesquinhas intrigas, nossas cotidianas reclamações, nossas minúsculas vinganças.
Porque só uma vida bem vivida, com decência e generosidade, prepara, ainda que sem muita garantia, isso que chamamos morte: que nos espreita na cama, no carro, no avião, na calçada, ou na mira de algum terrorista alucinado."



Um belo texto pra regar esse terreno árido vocabular que tenho habitado desde que "vi a cara da morte e ela estava viva, viva" (Cazuza).

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

SAUDADES

Poema
Cazuza / Frejat

Eu hoje tive um pesadelo
E levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo
E procurei no escuro
Alguém com o seu carinho
E lembrei de um tempo

Porque o passado me traz uma lembrança
De um tempo que eu era ainda criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço, um consolo

Hoje eu acordei com medo
Mas não chorei nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via o infinito
Sem presente, passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim
E que não tem fim

De repente, a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio, mas também bonito porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu há minutos ou anos atrás



"Poema foi composto por Cazuza para a sua avó paterna, Maria, em 1975, quando ele tinha 17 anos. Foi musicado em 1998 por Frejat." (Araújo, Lucinha. CAZUZA - PRECISO DIZER QUE TE AMO: todas as letras do poeta. São Paulo: Globo, 2001).
Ouvi-la também na voz de Ney Matogrosso redimensiona a beleza e a intensidade da composição.