sexta-feira, 25 de junho de 2010

O Mundo é de Sofia


Sua mãe e eu
(...)
Minha mãe e eu
Meus irmãos e eu
E os pais da sua mãe
E a irmã da sua mãe
Lhe damos as boas-vindas
Boas-vindas, boas-vindas
Venha conhecer a vida
Eu digo que ela é gostosa
Tem o sol e tem a lua
Tem o medo e tem a rosa
Eu digo que ela é gostosa
Tem a noite e tem o dia
A poesia e tem a prosa
Eu digo que ela é gostosa
Tem a morte e tem o amor
E tem o mote e tem a glosa
eu digo que ela é gostosa
Eu digo que ela é gostosa
Sua mãe e eu
Seus [primos] e eu
E o irmão da sua mãe
(Boas Vindas, Caetano Veloso)


Antes que Sofia inaugurasse em nossos ouvidos o seu choro estridente ou fitasse-nos com seus pequeninos olhos de estranheza e novidade; antes que despertasse o nosso olfato com o seu cheirinho delicado ou enlaçasse, para sempre, as nossas vidas com o seu despretensioso reflexo de preensão, todos os nossos sentidos já se voltavam para ela.

Nascida em nosso desejo, quando sua mãe exclamou intuitivamente estar grávida, cuidamos do seu banho, da temperatura do quarto, da suavidade das cores, de torná-la mais uma “menina dos olhos de Deus”.

Sim, agora podemos celebrar por inteiro essa alegria: O MUNDO É DE SOFIA!

O mundo é seu, Sofia. E nessa viagem, que dura uma vida inteira, nós – avós, pais, tias, tios, primos – o redescobriremos contigo a cada novo olhar, porque você também trará de volta a capacidade de nos surpreendermos diante de tudo que nos for familiar.

Amor,

Tia Neide, a tia de Thiago, João e Carol

terça-feira, 22 de junho de 2010

A Morte do Amante

À J.Saramago (in memorian)

Quando morre um escritor as palavras vestem-se de luto e, abatidas, sepultam a si mesmas. É um cenário sombrio.

Ao perceberem o lápis intocado deixado sobre a folha amargamente limpa, as palavras leem “despedida” e se recolhem em sinal do mais profundo respeito, e dor.

De agora em diante apenas um fantasma as assustará: conviver com a eterna dúvida de não saber o que poderiam ser: ideia, imagem, entrelinha ou, quem sabe, um secreto caso de amor...

Mil minutos de silêncio, por favor!


(VaneideDelmiro)

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Lo-Debar

Meados do ano. A essa altura, as palavras já deveriam ter acordado, lavado o rosto, tomado café, aberto suas asas e alçado vôo. Mas, contrariando toda previsão, não vejo sinal delas em parte alguma.

Será preguiça, cansaço ou temor o que as fazem permanecer tanto tempo recolhidas em plena manhã de sol e tendo, diante de si, um azul de céu provocantíssimo?

Estarão doentes, as palavras? Não, uma simples indisposição não as afetaria a tal ponto. Acaso padecerão de anomia, disartria, mutismo?

Ou teriam sido acometidas por algum infame acidente? De repente um bater de asas desajeitado, um vôo rasante, uma aterrissagem forçada... A queda. Depois, o silêncio.

Vítimas de seqüestro? Submetidas ao horror dos campos de extermínio? Perdidas em algum ponto do caminho, sem saber como voltar? Ou, tão somente, atendendo a necessidade de recolhimento?

Em que morada aportam as palavras quando silenciam? Como resgatá-las desse Lo-Debar? Que chamamento faremos para despertá-las desse inquietante silêncio? Afinal, que destino daremos a tudo que não conseguimos alcançar e responder na ausência delas?

(VaneideDelmiro)

A cidade era um deserto
O jovem era homem velho
E quem passava ao seu lado
Jamais conseguiria entender
(Nenhum de Nós, Deserto)