segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A quem interessar possa...


Nota Explicativa Desprovida de Sentido

É assim a minha natureza:
gangorra de aparições e sumiços.

Longe de mim, busco(-me),
perto,
esquivo(-me).

(VaneideDelmiro)




E se você me achar esquisita, respeite também. Até eu fui obrigada a me respeitar.
(Clarice Lispector)

Como possa amar a grandeza do mundo, se não posso amar o tamanho de minha natureza?
(Clarice Lispector)

domingo, 22 de novembro de 2009

Intertextualidade

Em 1989, numa sala de aula do Lyceu Paraibano, eu lia pela primeira vez Apelo, de Dalton Trevisan. Como tantos outros, o conto me fora apresentado por Lourdinha, na época minha professora de português e literatura. Hoje, uma amiga muitíssimo querida.
Nunca esqueci a profundidade desse conto. Ao longo de todos esses anos, entre leitura e releituras, é inevitável não me sentir tocada pela sensação de desamparo que o texto provoca. Sem dúvida, um dos mais belos que já li.
Mais recentemente, tenho me deliciado com a voz macia de Nara Leão. É como deitar a alma na rede e deixá-la livre para embalar-se no ritmo da mais pura suavidade.
Foi num desses momentos, ouvindo a interpretação Por Causa de Você, composição de Dolores Duran e Tom Jobim, que um apelo se fez em minha memória.
Essa, Freud nem precisa explicar.


(VaneideDelmiro)



APELO (Dalton Trevisan)

Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.
Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, até o canário ficou mudo. Não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam. Ficava só, sem o perdão de sua presença, última luz na varanda, a todas as aflições do dia.
Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate — meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa. Calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolha? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor.


Por Causa de Você (D. Duran / T. Jobim)

Ah, você está vendo só / Do jeito que eu fiquei / E que tudo ficou / Uma tristeza tão grande / Nas coisas mais simples / Que você tocou / A nossa casa querida / Já estava acostumada / Guardando você / As flores na janela / Sorriam, cantavam / Por causa de você / Olhe meu bem nunca mais / Nos deixe por favor / Somos a vida e o sonho / Nos somos o amor / Entre meu bem por favor / Não deixe o mundo mau levá-la outra vez / Me abrace simplesmente / Não fale, não lembre / Não chore meu bem

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Entre o bem e o mal

Quis, nem bem o sol raiou,
fazer tudo diferente...

Crente, acreditou.

Mas mal a noite chegou,
o desejo de tão frágil passou.

(VaneideDelmiro)


No sertão as cidades esperam o dia em que o asfalto chegar...
(Sá e Guarabyra, Tabuleiro)