sábado, 28 de fevereiro de 2009

Por um vôo seguro

Melhor parar por aqui

E depois
tem todas as razões,
todos os senões,
uma infinidade de sermões.

Nem pense em abrir os botões:
- É melhor parar por aqui!

(VaneideDelmiro)




Coincidência ou não, o período pós-carnaval traz sempre um certo silêncio, interno, mesmo quando uma batucada de afetos insiste em permanecer na avenida, exibindo fantasias, desfilando confusões.

As cinzas se estendem quarta-feira afora e deixam na casa um odor de palavras queimadas, difícil de suportar. Essa fogueira parece não ter fim.

Eu, que tenho sido uma defensora ferrenha da palavra, tenho que admitir a facilidade com a qual somos por ela enganados... Ou nos deixamos enganar?

Seja como for, é uma desilusão amorosa e, como tal, dói. Dói muito. Talvez por isso a necessidade de recolher a asa e esperar...

Riscos podem ser bons, mas no momento anseio por um vôo seguro.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

O pequeno herói e a princesa mignon














(Arte: http://marianamassarani.blogspot.com/)



Enquanto ouvia assustada, João relatava com indignação a crueldade de um garoto na escola que, de tipo avantajado, se sente à vontade para agredir e atemorizar crianças menores.

Carol foi uma dessas crianças que teve os lábios fortemente apertados num ato vil.

Ao observar a cena, João conta ter partido em defesa da irmã. Tão logo se aproximou puxou o braço do grandalhão e empurrou seu corpo em direção ao chão, para depois se afastarem, ele e sua irmã. O pequeno herói e a princesa mignon...

Não pude conter o meu espanto e preocupação:

"João, por favor, tome cuidado. Fique atento! Esse garoto pode..."

E sem que eu precisasse acrescentar uma só palavra, ele me disse com a doçura habitual:

"Tia, não se preocupa não, tá? O garoto é grande, mas meu amor é muito maior."


(VaneideDelmiro)



João, não me surpreende que você seja capaz de imprimir beleza e grandiosidade a um episódio que poderia, mas felizmente não ficou marcado pela maldade e covardia.
É como sempre digo: - "João, titia te ama, João!"



Abriu minha visão
O jeito que o amor
Tocando o pé no chão
Alcança as estrelas
Tem poder
De mover as montanhas
Quando quer acontecer
Derruba as barreiras...


(A Força do Amor / C. Horsth e R. Bastos)

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

E eu lá sou mulher de cappuccino! (Das diferenças)








Arte: images.easyart.com



O tempo estava propício. Até mesmo o frio de julho pode ser convidativo para quem o julga, à primeira vista, inóspito.

Naquela manhã saí para trabalhar levando uma pequena lata de cappuccino, minha bebida quente preferida. Entre uma e outra atividade convidaria os colegas para partilhar este prazer. Assim pensei, assim o fiz.

A água já borbulhava na chaleira e um cheiro bom de café indicava, no ambiente, o momento da pausa.

Aos poucos, o pequeno espaço adaptado para refeições ia sendo habitado.

Não sendo comum, a lata de cappuccino ganhara, naturalmente, algum destaque entre o pacote de biscoito, o depósito de açúcar, o pote de margarina e a garrafa térmica.

Antes mesmo que alguém mencionasse a novidade, anunciei com alegria:

"Hoje temos cappuccino!"

E entre interjeições, "obas!" e "uhns!", alguém vociferou:

"E EU LÁ SOU MULHER DE CAPPUCCINO!" Justificando em seguida a veemência de sua declaração:

"Para mim nada substitui o café: quente, forte, saboroso, de aroma inigualável. Que cappuccino que nada!" Afundou seu indicador na garrafa térmica, deixou o líquido "quente, forte, saboroso, de aroma inigualável" escoar dentro da xícara para, em seguida, sorvê-lo cuidadosamente.

Enquanto isso, ali pertinho, outro preparava chá de capim cidreira lembrando: –"Desconheço um tão relaxante!"

Ao fundo, ouvia-se uma voz mansa indagar: – "Onde está o leite, já acabou?"

Lá vem a chaleira, essa maria-fumaça-sem-trilhos, preparar meu cappuccino. Que delícia!!!

(VaneideDelmiro)




"Eu não espero pelo dia
em que todos os homens concordem,
apenas sei de diversas harmonias
bonitas, possíveis, sem juízo final"


(Fora da Ordem / Caetano Veloso)

Cabelos Brancos (Da comparação)

Perdidos entre os fios pretos
eles surgem rarefeitos.
Depois,
dá-se a inversão.

Quem sabe o amor
nascendo insuspeito
nos preencha por inteiro
com a sua vastidão.

(VaneideDelmiro / 01.02.2009)



Mariana, seu texto - O amor de cabelos brancos - foi inspirador.
http://maiscenas.blogspot.com/