terça-feira, 2 de outubro de 2007
PRIMO BASÍLIO
Em meio a inércia e a febre mal anunciada destes dias e como não pudesse dispensar a minha própria companhia, por pura falta de opção, fui comigo ao cinema ver Primo Basílio. Sou suspeita quando se trata de filme nacional, mesmo não sendo uma nacionalista de carteirinha como o personagem Policarpo Quaresma, de Lima Barreto. Eu não queria falar sobre o filme propriamente, mas da fragilidade das relações humanas, do passado se enraizando no presente, trazendo-lhe beleza e uma quase falsa promessa de resgate. Eu queria falar da culpa, cujo estrago, no filme, se revelou maior que a própria infidelidade. E não será assim também da vida real e para além das relações conjugais? Fiquei pensando no nocivo que é não nos perdoarmos por erros, omissões, gritantes silêncios. Na culpa que carregamos por tudo que ficou suspenso, pelo que se extrapolou, pelo que nem sequer se ousou sonhar. A culpa-ímpar-inconfessa-que-não-se-dissolve-nunca, nem mesmo quando todos te perdoam, porque é uma infame culpa íntima e vai matando uma verdade em você, qualquer que seja, mas é a sua e se precisa, sim, ser complacente consigo própria. É preciso, sim, colocar os "monstros no colo" (bela expressão utilizada por Marcia Tiburi, escritora e filósofa, no programa Sempre Um Papo). Não, nada disso é preciso. Tudo isso é urgente. É pra agora, é pra ontem, é pra décadas atrás. Oh, indócil monstro dá culpa, por que és tão aterrador, tão mortificante, tão gigantesco? Aceita o calor de uma alma trêmula, mas quente, sedenda por perdão.
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Um comentário:
Belíssima análise! Conheço pouco a obra do Primo Basílio, mais fico comovido com a profundeza de sua reflexão sobre um assunto; atualmente tão estampado nas relações marido-mulher. O drama maior acredito ("é não nos perdoarmos por erros, omissões, gritantes silêncios. Na culpa que carregamos por tudo que ficou suspenso, pelo que se extrapolou, pelo que nem sequer se ousou sonhar") é como conviver com o peso de cometer tantos erros consigo e com quem se gosta, então a consciência nos rasga a alma...
Abraços carinhosos,
Marcelo Cavalcanti
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