sábado, 6 de junho de 2009

Entre afazeres domésticos e prazeres poéticos

Remover o pó da rima embaçada, nas estantes da vida.

Esvaziar gavetas e encontrar o perdido poema. Alegrar-se.

Derramar o poema sobre o chão, espalhá-lo por toda a superfície dos cômodos, a fim de que o caminhar diário se torne mais leve.

Arrumar a cama prefaciando sonhos futuros.

Lavar os lençóis e ler, em seus fios gastos, a caligrafia irrefutável do tempo.

Em hipótese alguma, não importa o cansaço, deixar de recolher o lixo como quem tendo amontoado palavras fétidas, livra-se delas definitamente.


(VaneideDelmiro)

4 comentários:

Anônimo disse...

Você me surpreende a cada postagem, com esse jeito delicado de tratar sentimentos tão profundos de nosso ser. Adorei da associação com os afazeres dómeisticos.
Fazer a limpeza domésticas é muito fácil, difícil e fazer a limpeza da alma.
Abraços e continue escrevendo dessa forma belíssima.
Marcelo Cavalcanti

Jânio Dias disse...

Que belezura! Adorei!

Recolher o lixo é suavizar o chão. As palavras sempre brilham em pisos limpos.

Abraço!

Tucha disse...

Lendo o seu texto lembrei do verso do poema de Myriam Fraga;

Poesia é coisa
De mulheres.
Um serviço usual,
Reacender de fogos.

Flávio Borgneth disse...

Espalhar letras pela casa... Escrever é como derramar um balde. Derramar nos cômodos e deixar lá pra que, de vez em quando, a vida escorregue e inspire. Lindo texto, de cristal!