sábado, 5 de julho de 2008

Ninguém é mais que um nome...

Sem exagero, eu teria pelo menos uma cem razões pra falar desta postagem hoje, porque é algo que venho pensando há tanto tempo (e experimentando também). Mas o que de fato me motivou foi uma conversa, na hora do almoço, com minha mãe e minha irmã.

Alguma coisa muita essencial abalou o delicado terreno das relações amorosas. Evitamos. Ponderamos. Recusamos. Duvidamos. Sabotamos. Temos medo. Enfim, desacreditamos.

Por outro lado, “bombam” as salas virtuais de bate papo, os candidados e candidatas – expressão interessante – nos programas de relacionamento que se propõem a traçar o seu perfil amoroso e encontrar a sua cara metade, com pouco mais de meia dúzia de perguntas e respostas.

Pra dizer a verdade, eu nem lembro como essa conversa foi sendo desenhada na hora do almoço, muito menos como terminou, mas enfim, ficou reverberando na volta pra casa, me batendo aquele sentimento de "sem você sou pá furada" (verso de Rodrigo Amarante, em Paquetá).

O jeito mesmo foi retomar um poema engavetado, de escrita recente e impressões antigas. Sem nome até então, passei a chamá-lo Ninguém. Mas Ninguém é mais que um nome...




“Ah, se eu agüento ouvir outro não
quem sabe um talvez ou um sim
eu mereça enfim.

É que eu já sei de cor
qual o quê dos quais
e poréns dos afins
pense bem
ou não pense assim!"

(Paquetá / Rodrigo Amarante – Los Hermanos)





NINGUÉM

Ninguém virtualmente atraente,
geograficamente distante,
intelectualmente brilhante,
ou sexualmente fascinante...

Ninguém que ressurja das cinzas
com planos mirabolantes,
me prometendo agora
um futuro radiante.

“Ficar”, só se for de fora.
Aqui dentro uma lei impera:
é preciso amor PULsanTE.

Amor platônico? Sem chance.
Prefiro o amor plutônico
que balança o rabo
e, na minha chegada,
late exultante.

Pseudônimos, enigmas, entrelinhas:
deixo-os à cartomante
(ou a quem puder servir).

Careço dá vida aos sentidos
para não morrer de fome
na condição de mulher amada à amante.

Obs.:
Dispenso a mais fina etiqueta,
a conta bancária esbanjante
e todas as declarações
em outdoors, faixas, auto-falantes.

Só não abro mão de quem
verdadeiramente me encante
e faça da palavra, a flecha
E de mim, seu alvo constante.


(VaneideDelmiro)

6 comentários:

Keidy L. disse...

Obrigado pelo comentário, sua postagem está perfeita.

O que nos diferencia é não ser igual ao mundo, isso é muito bom.

Volte sempre lá no blog sim,

Beijos.

Camilla Tebet disse...

Que lindo esse ninguém. E quanto mais ninguém for, mais próximo está de ser quem vc quer. É assim, em busca de ninguém encontramos alguém que faça de nós um alvo constante.
Adorei ninguém... adorei.
estou atrasada nas leituras, tem coisa nova por aqui e volto pra ler mais.
Bjos

Unknown disse...

Nossa que postagem magnífica, cheguei no seu blog procurando coisas sobre o Rodrigo Amarante, pq sou super fã dele e do Los Hermanos.
Achei o texto muito foda, tem a cara do LH!!! ^^
Principalmente na parte
"“Ficar”, só se for de fora.
Aqui dentro uma lei impera:
é preciso amor pulsante.

Amor platônico? Sem chance.
Prefiro o amor plutônico"

Putz pulsante, platônico, PLUTÔNICO... isso tudo é muito Los Hermanos!!
Adorei vc minina!!!kkkk

Unknown disse...

Gostei do vôo realizados por essas asas, muito sútil e lindinho seu poema...
Além de brincar de um jeito super gostoso com as palavras..
Parabéns menina...
Até a volta!

Anônimo disse...

"Ninguém virtualmente atraente,
geograficamente distante,
intelectualmente brilhante,
ou sexualmente fascinante..."

Foi o trecho que mais gostei. Achei que ia falar mais dessa coisa virtual, mas logo transcendeu...

Lindos versos!

Bjs!

Ronaldo Monte disse...

Somos seres de palavras. Só elas nos fazem presentes. E o privilégio de ter você como leitora me dá prazer em ser palavra. Um beijo. Ronaldo.