quarta-feira, 4 de junho de 2008

Eu sei que é junho...

Eu sei que é junho, o doido e gris seteiro
Com seu capuz escuro e bolorento
As setas que passaram com o vento
Zunindo pela noite, no terreiro
Eu sei que é junho!

Eu sei que é junho, esse relógio lento
Esse punhal de lesma, esse ponteiro,
Esse morcego em volta do candeeiro
E o chumbo de um velho pensamento

Eu sei que é junho, o barro dessas horas
O berro desses céus, ai, de anti-auroras
E essas cisternas, sombra, cinza, sul

E esses aquários fundos, cristalinos
Onde vão se afogar mudos meninos
Entre peixinhos de geléia azul
Eu sei que é junho!
(Junho - Alceu Valença)




Aqui permanece aquele clima de nevoeiro sobre o qual havia tantas vezes lhe falado. Cor de chumbo no ar, no céu, sob nossas cabeças. Tudo frio por fora e por dentro. O sol, agora, é um desconhecido distante.

A verdade é que junho sempre me pareceu um mês meio pesado. Uma espécie de dezembro no meio do ano...

Enquanto estou aqui, pensando em você, torço para que as nuvens passem o mais rapidamente possível, sem que te causem também qualquer dano.

De qualquer forma, gostaria de te lembrar que em tempos assim, quando tudo é puro cinza, é sempre bom agasalhar-se, deixar-se agasalhar. Por boas razões, recolhi o velho cobertor da gaveta. Apesar dos anos, é o que tem aquecido o meu corpo e acalentado alguns sonhos e muitos desalentos...

Quer experimentar?


(Cartas a si - VaneideDelmiro / 1996)

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