sábado, 26 de janeiro de 2008

Para Mariana

Mariana, depois que nos falamos hoje, senti que as palavras queriam voar. Já era tarde, mas ponteiros não combinam com liberdade. A nossa conversa foi um céu imenso de possibilidades e o vento, favorável aos mais belos vôos. Mesmo assim, com tudo a favor, as asas arredias planaram sem sinal de pouso. Qualquer hora elas voltam. Enquanto isso não acontece, resgatei de minhas arrumações um texto, escrito há alguns anos, mas cujo pouso aqui ganha sentido pelo que conversamos.



Um jardim por mais silencioso sempre pede, a sua maneira, para ser visitado. Eu, na minha ignorância, devia tê-lo compreendido. Mas sua beleza me fez recuar e confundir, no mais profundo, o medo à prudência, a timidez à delicadeza.

Desaprendera, então, toda a ousadia, todo ímpeto de desejo. Esperando sua permissão, que de tanta ambigüidade ma fazia ir e recuar num movimento estático, eu, contente de tudo ser só isso, sofria.

Ainda hoje interrogo se não devia ter entrado, assim como quem no intento da surpresa - da boa surpresa - aparece para uma visita inesperadamente planejada, com terceiras intenções.

E assim, teria podado as árvores, extraído as ervas daninhas, regado as flores, aparado a grama e sentido o prazer compacto, retido na pétala já orvalhada de minha retina.

Um comentário:

Mari Monici disse...

Que surpresa boa! Que honra! :)
E que texto lindo! Arrancou-me um suspiro e uma vontade de ficar quieta no jardim sem tanats pressões externas sobre não entrar nele...Muito doces e sensíveis suas palavras. Obrigada, pelo exto, pelos vôos.
Um beijo e se deixares, publico lá também...