sábado, 8 de dezembro de 2007

ESSE TAL ENCANTAMENTO

Há sentimentos e atitudes tão clichês que se chega mesmo a duvidar de si próprio quando não se atende a um “certo” formato de pensar, sentir ou expressar-se. Acredito que essa seja uma das razões que me tem feito silenciar.

Após a morte de padrinho – nunca antes eu experimentara a morte física de alguém tão importante –, digo nas semanas que se seguiram (e até agora) foi um não saber o que sentir e, ao mesmo tempo, um querer sentir.

Primeiro foi o luto burocrático das decisões. Depois a descoberta aterradora das máscaras e a raiva contida ante tamanha constatação. Na seqüência foram a busca incessante por explicações, a tentativa de fortalecimento espiritual pelejando contra minha fé duvidosa e um ressignificar do que seria, a partir de então, seguir adiante: viver?!

Nesse trajeto – longo, sinuoso, lento – saudade, tristeza, dor, inconformismo, arrependimento, vazio etc etc etc compuseram também a paisagem. Chorei menos do que esperava, desesperei menos do que supunha e andei me cobrando caro por isso, talvez por conta dos tais clichês.

É que a lágrima é para o olho assim como a palavra é para a boca: expressão. E só aos poucos, muito a vagar, passei a aceitar o que já sabia, que as expressões clichês não são as únicas verdadeiras. Aliás, nem sempre o são. Esse congelamento de onde vos falo não é vazio de sentido, mas pleno dele.

Padrinho permanece numa presença inquestionável. As lembranças dele são as melhores. Na maioria das vezes eu sinto paz quando penso nele e, de algum modo, muito íntimo, eu sei e sinto que estamos em comunhão, o que me faz pensar que sua proteção permanece como antes, apesar de todas as minhas incertezas e medos.

Agora lembrando Guimarães Rosa – “as pessoas não morrem, ficam encantadas” – fico me perguntando se não estive até agora, com este texto, tentando dizer desse tal encantamento.


"Depois de te perder, te encontro com certeza
Talvez no tempo da delicadeza
Onde não diremos nada, nada aconteceu
Apenas seguirei como encantado ao lado teu"

(Todo Sentimento - Chico Buarque / Cristovão Bastos)

Um comentário:

Mariana disse...

Querida, quando meu pai se foi, ñem pude pensar no que era clichê sentir, só sei que alguém tinha que resolver a vida da familia e troquei de momentos com os ouytros...daí, ninguém me compreendeu. melhor sentir o que se sente e não importa o que os outros pensem. Pq o preço é caro sim...e a vida pode parar pra sentir mais pra frente - o que não é nada bom. Agora, se me permite, tenho comigo que Rubem Alves encanta as pessoas... :)
Abraço