domingo, 26 de abril de 2009

Para não emudecer...

Eu bem desconfiara. Quando abril se abriu engoliu minhas palavras. Eu o desejei ameno, mas ele se fez cruel, golpeando-me dessa forma.

Enquanto as palavras partiam, eu tentei recuperá-las, gritei por elas, as chamei baixinho pelo nome, fiz bico, chantagem, apelei às boas lembranças. Todo tipo de capricho utilizei. Até a saliva secou de tanto que argumentei, relembrando a nossa história.

Ofereci, de bom grado, lápis, papel, borracha, tudo de bandeja, na mesa, sob a luz focada do abajour.

Nem pareciam me ouvir. Bateram em retirada. Fizeram um silêncio abissal. Sequer olharam pra trás. Pouco caso ou um caso fatal?

Por via das dúvidas, comecei logo a rezar. Eu disse:
- Senhor, não me deixa emudecer. A poesia é também meu pão de cada dia, um escudo contra o sofrer. Senhor, não me deixa emudecer porque tudo que morre em mim, ressuscita no dizer.
Amém.


(VaneideDelmiro)



"Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á" (Mateus 7:7)
"E, tudo o que pedirdes na oração, crendo, o recebereis" (Mateus 21:22)

4 comentários:

casa da poesia disse...

lindo!...e per te...

"the flowers are all right"...!?...

Edson Nunes / disse...

Maravilhoso!

Parabéns, de verdade!

Jânio Dias disse...

Ah... eu entendo bem o que é isso.

É um sofrer constante em minha alma.

Levei oito meses ou mais para escrever sobre a minha avó. Eu só tinha o título e uma página em branco. Aí eu tava dia desses na academia, na esteira, ouvindo o ipod e tocou uma música que me levou a ela. Pensei na hora: "preciso escrever hoje sobre ela".

Não saiu o texto que eu queria, mas me fez sentir aliviado.

Um abraço.

Camilla Tebet disse...

Que lindo.. que ele não te deixe calar mesmo. Um oração ao bem dizer. Adorei.