
Depois de dias sem escrever uma única linha, achei que a "Ladra" (minha última postagem) acabou roubando bem mais que o meu sábado, e isto eu penso há dias. Acho que de tanto pensar, acabei sonhando à noite passada com um assalto aqui em casa. Eram três ladrões: uma mulher e dois homens.
Ela investia pela janela, enfiando seus braços entre os espaços da grade tentando alcançar objetos no interior de um dos quartos. Eu acordava com o barulho de coisas sendo mexidas e descia a escada para verificar o que acontecia. Assim que me deparava com a cena eu me armava com um martelo e espancava o braço dela, na tentativa de expulsá-la. Puxa, por que será que ninguém acordou com aquela barulheira toda...
Nem reparei se ela foi embora, se levou algo, o quanto se machucou, porque logo em seguida tive que agir numa nova investida, desta vez na área que antecede à cozinha. Era um ladrão tentando abrir os três cadeados da grade. Desta vez eu arrastava tudo que podia pra trás da porta, tentando criar uma barreira que impedisse a sua abertura. Eu gritava tentando chamar a atenção dos vizinhos. Ninguém respondia, ninguém levantava. Num átimo de segundo pensei: quero o nome desse tarja preta.
Daí a pouco lá estou em outro cômodo da casa, se outro quarto ou a sala, eu não lembro, mas o esforço era o mesmo: o de impedir a entrada. Não havia falas nem rostos identificáveis, apenas a movimentação, a correria, o coração disparado, o sentimento de solidão, o esforço para manter intacto o ambiente, a integridade das pessoas. Que agonia, meu Deus!
Acordei em sobressalto. Cadê a água que trouxe aqui pra cima, cadê a água? Tinha certeza que estava ali na mesa. Pronto, levaram a água também. Nem acendi a luz, com medo da realidade. Tanta janela nesse quarto. Tanto frio nesse quarto. Fui procurando no tato. Encontrei. Goles de camelo num deserto. Calma! Foi um sonho. É certo que nada está seguro, mas foi um sonho.
A realidade foi constatar ao chegar em casa hoje, à noitinha, que roubaram a lâmpada fluorescente da garagem. Não é a primeira vez. Coincidência? Pressentimento? Fato?
O sonho ficou como lembrança (objeto para análise).
A realidade como um chamamento à cautela.
O texto postado – LADRA – como uma espécie de travo... Não sei se consigo explicar. Algo como provar e não degustar, tocar e não sentir, olhar e não ver, saber o que precisa (e deve) ser feito e não agir.
Acho que preciso de uma antiácido... E de boas doses de mudança de atitude.
(VaneideDelmiro - Arte: Miró)