quinta-feira, 3 de junho de 2010

Lo-Debar

Meados do ano. A essa altura, as palavras já deveriam ter acordado, lavado o rosto, tomado café, aberto suas asas e alçado vôo. Mas, contrariando toda previsão, não vejo sinal delas em parte alguma.

Será preguiça, cansaço ou temor o que as fazem permanecer tanto tempo recolhidas em plena manhã de sol e tendo, diante de si, um azul de céu provocantíssimo?

Estarão doentes, as palavras? Não, uma simples indisposição não as afetaria a tal ponto. Acaso padecerão de anomia, disartria, mutismo?

Ou teriam sido acometidas por algum infame acidente? De repente um bater de asas desajeitado, um vôo rasante, uma aterrissagem forçada... A queda. Depois, o silêncio.

Vítimas de seqüestro? Submetidas ao horror dos campos de extermínio? Perdidas em algum ponto do caminho, sem saber como voltar? Ou, tão somente, atendendo a necessidade de recolhimento?

Em que morada aportam as palavras quando silenciam? Como resgatá-las desse Lo-Debar? Que chamamento faremos para despertá-las desse inquietante silêncio? Afinal, que destino daremos a tudo que não conseguimos alcançar e responder na ausência delas?

(VaneideDelmiro)

A cidade era um deserto
O jovem era homem velho
E quem passava ao seu lado
Jamais conseguiria entender
(Nenhum de Nós, Deserto)

3 comentários:

piedade disse...

...E os códigos mais uma fez nos ajuda a compreender a alma, o que ela traz, seus medos e recuos diante de algo que possa lhe trazer à tona ou submergir em sí mesmo.


Fique a vontade, não precisa me consultar.

Piedade

Ludmila Clio disse...

Nossa! Graças a Deus vc está de volta!!
O poeta é tão sagaz que mesmo quando as palavras voam para longe, ele vai falar dessa falta de palavras... com as palavras mais lindas, cheio das sutilezas e da sensibilidade... lindo, lindo texto!
Não pare mais!!!!
Bjão!!

Anônimo disse...

Sei bem o que é isso, ando já algum tempo com essa mesma sensação, acho q todos em algum momento da vida experimentará esse amargo sentimento. Acredito que para tudo tenha um sentido, um ensinamento e q tudo é efémero, há não ser as palavras... Lindo texto!
Se as palavras te faltam e vc escrevi tão belo assim, o quê dizer se elas não faltassem, rsrsrs!!!

Abraço fraterno,
Marcelo Cavalcanti