segunda-feira, 9 de julho de 2007

REMOTO CONTROLE....

Passados alguns dias em silêncio, estou de volta. Não, não estava com a asa quebrada, apenas precisei voar por outras paisagens: mais técnicas, menos poéticas.
E pra registrar meu retorno, resolvi postar um texto que não é exatamente uma reflexão, nem propriamente um desabafo. O fato é que a idéia ressurgia cada vez que me deparava com uma cena de novela, global ou não. Então decidi desativar o controle remoto e acionar a escrita.



REMOTO CONTROLE (VaneideDelmiroNeves)

Modificam-se os nomes, com eles as personagens; o cenário; os horários; os modos de dizer e de vestir, mas a trama ainda é a mesma. E seduz tanto quanto no início, ou talvez mais, pois os recursos, estes, sim, são outros e inauguram novas feições para as mesmas caras.

Não quero ser injusta porque tanta mesmice sedutora tem lá a sua função, nem que seja – o que não é pouco, reconheço – a de satisfazer nossas necessidades e desejos inconfessos; transformar em realidade o que, em nós, não passa de ilusão; canalizar fantasias, exterminar fantasmas; projetar a maldade que não ousamos admitir e pulsar forte.

Mas também fere. Fere não ser a mulher cortejada pelo homem maduro, elegante, gentil, rico e, como se não bastasse, disposto a mover céus e terras para provar que o amor vale a pena. Fere não ser aquela outra, executiva bem sucedida, exalando poder e sedução por todos os poros. Ou, mesmo, a adolescente que acaba de descobrir o peito arfante em paixão, de quebra por um amor proibido (assim dá mais audiência) e que encontrará, ao longo dos capítulos, incontáveis obstáculos para viver o seu afeto, sendo, ao final (desculpem tanta previsibilidade, a culpa não é minha!), recompensada com um beijo ardente, daqueles de tirar as crianças da sala, te fazer subir pelas paredes ou suspirar por uma antiga lembrança.

Fere não ser o vilão, porque apesar do mau caratismo, seu vigor e determinação são, no mínimo, invejáveis. Fere não encarnar o bom moço, sempre disposto a ajudar; àquele que leva a máxima ao máximo: “se alguém te bater numa face, oferece também a outra”. Fere não ser a vítima – coitada! – , com um rol de injustiças “justificando” o que não deu certo: sua vida de desencontros e atrapalhos.

Fere, simplesmente. Fere não me enquadrar e, ainda assim, ver tantas facetas de mim espalhadas em quem não sou. Por isso recorro à escrita, para não torná-la também remota.


JPA, 08/JUL/2007

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