sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Revelação


Era um lugar alto e frio. Ventava terrivelmente. Pressenti o perigo. Vi um enxame de pensamentos avançando em minha direção, todos enlouquecidos.
No meio do nada, um ataque frontal, impiedoso. Seria mortal? Sucediam-se palavras e sentimentos desgovernadamente, a confundir-me. De início, tentei domesticá-los, mas o esforço logo resultou inútil.
Esquivei-me o quanto pude. Fugi não o fiz. Talvez por fraqueza, e não por coragem.
Lembro das muitas tentativas de proteger o corpo, com a intenção de preservar a alma. Senti um açoite imaterial com a força e a ira de mil chicotes.
Não havia grito, porque naquela agonia silenciosa misteriosamente eu sabia não estar só. Algo infinitamente maior me sustentava. Seu nome É Deus.

(VaneideDelmiro)



Quando passares pelas águas estarei contigo, e quando passares pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti (Isaías 43:2)

sábado, 4 de setembro de 2010

Pingo




Chamava-se Pingo
E nos deu um oceano de alegria.

(VaneideDelmiro)



Negro, com os olhos em brasa
Bom, fiel e brincalhão
Era a alegria da casa
O corajoso Plutão
Fortíssimo, ágil no salto
Era o terrror dos caminhos
E duas vezes mais alto
Do que o seu dono, Carlinhos
Jamais a casa chegara
Nem a sombra de um ladrão
Pois fazia medo a cara
Do destemido Plutão
Dormia durante o dia
Mas quando a noite chegada
Junto à porta se estendia
Montando guarda ficava
Porém Carlinhos
Brincando com ele
Às tontas no chão
Nunca saia chorando
Mordido pelo Plutão
Plutão velava-lhe o sono
Seguia-o quando acordado
O seu pequenino dono
Era todo o seu cuidado
(...)
Foram um dia à procura dele
E esticado no chão,
Junto a uma sepultura
Acharam morto o Plutão
(Olavo Bilac, Plutão)