domingo, 13 de abril de 2008

Caso Isabella...

Hoje não dá
Hoje não dá
Não sei mais o que dizer
E nem o que pensar.

Hoje não dá
Hoje não dá
A maldade humana agora não tem nome
Hoje não dá.

Pegue duas medidas de estupidez
Junte trinta e quatro partes de mentira
Coloque tudo numa forma
Untada previamente
Com promessas não cumpridas

Adicione a seguir o ódio e a inveja
As dez colheres cheias de burrice
Mexa tudo e misture bem
E não se esqueça: antes de levar ao forno
Temperar com essência de espirito de porco,
Duas xícaras de indiferença
E um tablete e meio de preguiça.

Hoje não dá
Hoje não dá
Esta um dia tão bonito lá fora
E eu quero brincar

Mas hoje não dá
Hoje não dá
Vou consertar a minha asa quebrada
E descansar.

Gostaria de não saber destes crimes atrozes
É todo dia agora e o que vamos fazer?
Quero voar p'rá bem longe mas hoje não dá
Não sei o que pensar e nem o que dizer

Só nos sobrou do amor
A falta que ficou.

(Os Anjos - Renato Russo)

domingo, 6 de abril de 2008

Há coisas que amarelam (e pessoas também!)

Pintura: Salvador Dali



Hoje encontrei dentro de um livro uma velha carta amarelecida,
Rasguei-a sem procurar ao menos saber de quem seria...
Eu tenho um medo horrível
A essas marés montantes do passado,
Com suas quilhas afundadas, com
Meus sucessivos cadáveres amarrados aos mastros e gáveas...
Ai de mim,
Ai de ti, ó velho mar profundo
Eu venho sempre à tona de todos os naufrágios!
(Mário Quintana)




Um sorriso amarela quando ficamos sem jeito, mesmo se os dentes são branquíssimos. Na hora h se amarela e se perde uma oportunidade há muito esperada. A verdade e a transperência podem causam uma amarelidão sem fim. Diante da pessoa amada, então, amarela-se muito, quase uma hepatite sentimental.

Amarela-se por medo, por conveniência, por prudência, por falta de iniciativa, por insegurança e por tantas outras razões.

Algumas lembranças vão se esmaecendo com o correr dos anos. Quem sabe um jeito sutil de amarelarem... Os papéis também amarelam com a tinta do tempo. Guardados ou esquecidos, em gavetas de madeira ou da memória, amarelam cartas, poemas, declarações, confidências, pedaços de si... Seriam estas as “marés montantes do passado”, as quais temia horrivelmente Mário Quintana?

Hoje, assim como ele, encontrei uma carta amarelecida. Embora temendo, não a rasguei. Quer dizer é uma carta duplamente amarelecida, porque amarelei na hora de enviá-la e continuo amarelando até agora.

Relendo-a tive a sensação de que mesmo os acontecimentos e afetos perdendo o tom original, algo do seu vigor conservar-se apesar de tudo. Sem dúvida, Quintana, isso mete medo.



"Todo mundo amarela uma hora" - Fernando Anitelli