sábado, 23 de fevereiro de 2008

Era pra ser outra coisa

Como a vida tem seguido em câmera lenta, não devia mas parece natural vir aqui repetir certas falas. Entretanto, hoje, o que eu queria falar era de outra ordem, precisamente de uma certa desordem. Não aquela caótica, em que não se sabe onde tudo começa e termina e há confusão de sentimentos, mas de uma desordem que resulta da clareza de descontinuidade entre o que foi, o que é e o que será (se for)...
É esta mesma desordem que me faz sentir livre, mas não confortável, para não entender nem mesmo o fio condutor desta postagem, isto se houver algum.




"...E aquilo a que chamávamos nosso amor
era talvez eu estar de pé diante de você,
com uma flor amarela na mão,
você com duas velas verdes,
e o tempo soprando contra nossos rostos
uma lenta chuva de renúncias
e despedidas e tíquetes de metrô"

(Julio Cortázar)




Sabe aqueles momentos nos quais alguém deseja tanto falar e o outro necessita, com não menos intensidade, ouvir? Bem, essa pode ser a hora do amor. Ou de uma incomensurável solidão.
(VaneideDelmiro)

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Ponto. Final?

Às poucas coisas que ficaram
acrescentei o que não existia.
Apaguei todas as palavras da memória
e de quebra, as entrelinhas.
Enfim, coloquei um ponto
onde a vírgula persistia.

(VaneideDelmiro)

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Preciso...

Todos estes dias da luta mais vã, como disse o poeta Drummond, foi em Rilke que encontrei algum alento pras minhas manhãs mal rompidas e meus fracassados combates.




"O senhor olha para fora, e é isso sobretudo que não devia fazer agora. Ninguém pode aconselhá-lo e ajudá-lo, ninguém. Há apenas um meio. Volte-se para si mesmo. Investigue o motivo que o impele a escrever; comprove se ele estende as raízes até o ponto mais profundo do seu coração, confesse a si mesmo se o senhor morreria caso fosse proibido de escrever. Sobretudo isto: pergunte a si mesmo na hora mais silenciosa de sua madrugada: preciso escrever? Desenterre de si mesmo uma resposta profunda. E, se ela for afirmativa, se o senhor for capaz de enfrentar essa pergunta grave com um forte e simples "Preciso", então construa sua vida de acordo com tal necessidade; sua vida tem de se tornar, até na hora mais indiferente e irrelevante, um sinal e um testemunho desse impulso."
(Rainer Maria Rilke - Cartas a um jovem poeta)

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Larva da palavra

Acredito na capacidade de expressão da palavra. Acredito em sua força transforma(DOR)a. Acredito em seu potencial para tornar menos sombra certos afetos, estados do ser. Expulsar fantasmas, recriar mundos, traduzi-los. Dizer-se. Quiçá, refazer-se. Não duvido, acredito. Acredite, acredito! Mas quando a fonte não jorra há dias nem um vôo se anuncia, a crença esvazia-se na espera-ânsia e me faz desejar não a asa, mas a larva, a larva da palavra.




"A escritura é um abrigo" - Mário Benedetti

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Bloco do Eu Sozinho


O pior do carnaval é não conseguir se desprender dele, mesmo quando dele não se participou. Foi-se a quarta-feira, mas as cinzas ainda não foram atiradas ao mar. Também, pudera, toda esta solidão e silêncio, eu deveria ter desconfiado que o Bloco do Eu Sozinho não deixaria à avenida assim tão rapidamente, tampouco se desfaria de sua fantasia de "estou assim porque quis".
Abro alas à quaresma e que ela me traga alguma ressurreição.




Bloco do Eu Sozinho: Título do 2º CD dos Los Hermanos.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Pierrot





"O Pierrot apaixonado chora pelo amor da Colombina..."
(Pierrot - Los Hermanos)



"Nada é do tamanho
do que sinto agora em mim
nada do que sinto
foi sentido tanto assim
só a dor constrói
só o amor que dói
só mas com amor
meu mundo é maior

nada é do tamanho
do que já desfila em mim
filas de escolas
com milhões de tamborins
e eu sem ter lugar
pra tanto bem e tanto mal
(...)
desde que nasci
acho natural
tanta solidão
no esplendor do carnaval"
(Desfile - Ná Ozzetti e Luiz Tatit)


A postagem da composição "Desfile" é retroativa. O que a justifica hoje (23/02) é expressar todo o sentido de antes.